De tudo, me resta a vívida lembrança, incendiada toda manhã, fértil como campo virgem, e à ela me rendo sem peleja, pois vive dentro, e por dentro me rasga.
Se do que não existiu já carrego tanto, do que houve levo-te inteira. Não te sei, e sonhei – não pouco – com o dia em que o faria, mas este jamais nasceu.
Então que ao menos o partir seja doce, que o estar foi insosso, pois não te pude provar. O mesmo sorrir que me cativou – e lembra-te de Exupéry – é aquele que deixo agora para trás, numa mulher que só tive por instante, num paraíso que só de passagem pisei.
Mas vê, menina dos olhos de gato: minha memória é daquelas perenes, para o bem e o mal. É como furar a pele para nela deixar pintura: com o mesmo sangue que marco o corpo é que tatuo a alma.
Dorme calma agora. Parto, a realidade chama. E da gente, que nunca foi nós, do uníssono que jamais foi um pretendo me lembrar só até que as estrelas esfriem.