Metrô lotado é sempre um convite para as pessoas mostrarem o que têm de pior, seja o cheiro ou a falta de educação.
Fazia tempo que eu não presenciava uma discussão mais acalorada. E mais: bem ao meu lado. Senti até alguns perdigotos voando diretamente da moça loira para o meu rosto.
A senhora acusava a jovem de tê-la empurrado, enquanto essa última, por sua vez, se defendia dizendo que havia sido empurrada antes. Enredo pronto, até meio sem graça. Pelo menos até o negócio começar a ficar mais físico que verbal.
Apesar de tudo estar acontecendo embaixo do meu nariz, eu seguia indiferente, fitando a TV e censurando as duas em meu íntimo: “Paleolíticas! Que se matem!”.
Foi então que um homem interveio. Com uma fala calma, quase pedagógica, ele amenizou a situação, acalmou as brigonas. Coincidência ou não, ambas se calaram. Senti orgulho dele. E vergonha de mim.
Passei o resto da viagem pensando no que acontecera. O que eu faria se elas começassem a se estapear ali mesmo? Decerto eu tentaria separar, mas por que deixá-las chegar a esse ponto? Não poderia ter sido eu o pacificador?
Toda vez que me acovardo frente a um caso como esse vejo o quanto ainda me falta de empatia. Não basta ser tolerante. É preciso ajudar meus iguais a seguirem o mesmo caminho. Assim, talvez um dia não haja muito o que tolerar.