Na profundeza

Indo profundamente demais – Pessoas que compreendem algo em toda a sua profundeza raramente lhe permanecem fiéis para sempre. Elas justamente levaram luz à profundeza: então há muita coisa ruim para ver”.

Friedrich Nietzsche, em “Humano, Demasiado Humano”, 489.

Ainda que estejamos lidando aqui com a velha visão niilista de mundo – tudo e todos têm seu lado podre, suas chagas –, trata-se de uma mensagem que não deve nunca deixar de ser dita, uma tecla que precisa ser batida à exaustão: questione. Pergunte. Duvide. De tudo, de todos, o tempo todo.

Definitivamente não é fácil. Muito pelo contrário. Colocar em prática esse “modus operandi” é desagradável, insalubre, deprimente. Por-se a ouvir com cautela e incerteza seus próprios amigos e familiares deixa um amargor na boca. É o caminho mais árduo, sem dúvida. É a pílula azeda, a pílula vermelha.

Se há tanto sofrer envolvido, se há esse incômodo constante, por quê? Qual o objetivo, afinal?

Bom, gostaria de ter uma resposta direta, daquelas contundentes, que convencem de primeira. Mas não tenho. Não é exatamente uma escolha. E pior (ou melhor): não há volta. Não sei dizer como e quando começa-se a ser tomado por essa crítica incessante. E também não sei ao certo aonde tudo isso vai levar. O que sei, de fato, é pouco: sei que gosto disso. Encontro prazer na dor. Na dor de ser excluído, na dor de ser alvo de chacotas, na dor de ser incompreendido e julgado como “arrogante”, como “prepotente”.

Dentro dessa “sanha masoquista” há, claro, algumas metas mais claras. Não “estou nessa” só para ser diferente. Creio, e creio com entusiasmo, que essa dor do isolamento é mais tolerável do que o “prazer da ignorância”. É certo que se vive mais facilmente quando se desconhece os porquês e se evita os “por quês”. Mas, ao mesmo tempo, os revezes da vida ganham origens metafísicas, místicas. Prefiro conhecer meus algozes, físicos e psiquícos, do que criar fábulas para explicar sua existência.

Vá ao fundo dos seus poços. Sempre. Saber o que tem lá será seu maior incentivo para voltar.

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