Safári Corporativo

Por trás das mesas dos escritórios. Em cima das cadeiras e de seus estofados. Em frente a computadores. Próximos a teclados, mouses, multifuncionais. Entre divisórias cinzas e carpetes marrons. Em meio a canetas, telefones, grampeadores e fax. Dentro de elevadores, subindo escadas, procurando andares. Entre as coxas das secretárias dos chefes. Ao lado de extintores de incêndio, dos interfones. Ali, embaixo da luminária.

Todos eles se observam de esgueio – os seguranças, as câmeras, as paredes também. Eles se aglomeram em reuniões, discutem decisões. Eles entraram na dança. Ostentam suas gravatas, seus sapatos, seus cintos, mas ao mesmo tempo estão nus aos nossos olhos. Tão luxuosa manifestação, que varre toda a inspiração que um dia existiu naqueles corpos. Preenche de vazio as ideias, um dia cheias, incandescentes. Assassina a realidade dos homens. Cria necessidades fictícias. Transforma tudo em uma pob(d)re ilusão.